segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A EVOLUÇÃO DA CRIMINALIDADE

por Anderson Barbosa
O Rio Grande do Norte está convivendo com o pior. Não faz nem dois anos que algumas ações de violência, consideradas comuns nas grandes capitais do país, surgiram pelas bandas de cá e passaram a aterrorizar a sociedade potiguar. Acontecimentos inéditos, antes nunca registrados no estado, que agora nos pertencem. Crimes inusitados, que agora aterrorizam a todos nós.

Neste curto período, numa sequência assombrosa de atos surpreendentes, a população passou a acordar apavorada com explosões causadas por bananas de dinamite, artefatos bélicos que mandaram pelos ares agências e caixas eletrônicos. Muita gente também ficou perplexa com a ousadia de bandidos que invadiram e roubaram armamentos de dentro de bases policiais. Outro exemplo espantoso foi o desaparecimento de drogas e armas que se imaginava estarem seguras dentro do Itep, sem falar na incrível história das 54 mulheres que pernoitaram na maior unidade prisional do estado, seguindo com o fato de o estatuto do PCC ter sido apreendido, pela primeira vez, circulando nas mãos de traficantes pelas ruas da cidade.

Na última semana, para agravar ainda mais a situação, parte da sociedade entrou em pânico com os ataques simultâneos e orquestrados que quase incendiaram nove ônibus na Grande Natal, atentados ainda atribuídos à maior facção criminosa do país. Sobre o PCC, a propósito, nunca se falou tanto. Afinal, a bandidagem em nosso estado está mesmo avançando? Ou é a nossa segurança pública que está totalmente estagnada, sem aparato suficiente para combater a evolução da criminalidade?


Para responder a estes questionamentos, o NOVO JORNAL procurou autoridades no assunto. Ouviu juízes, promotores, advogados, coronéis da PM e delegados da Polícia Civil. Também buscou a resposta com jornalistas que cobrem diariamente a violência nas ruas da capital.

Antes de relatar a opinião dos conhecedores da violência urbana, a reportagem obteve alguns dados que retratam bem o momento atual. Os números não mentem. Estatísticas do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) revelam que, de janeiro a agosto deste ano, a Polícia Militar precisou sair às ruas para atender 69.698 ocorrências. Nos mesmos oito meses do ano passado, foram 67.883 pedidos de socorro. Ou seja, comparando um período com o outro, foram registradas 1.815 ocorrências policiais a mais, um crescimento de 2,67% no total de chamadas atendidas pela PM.

Henrique Baltazar Vilar dos Santos, juiz titular da 12ª Vara Criminal

É um problema nacional. A criminalidade de fato vem evoluindo e a violência aumentando. Como as leis brasileiras são maleáveis, e o Estado não é eficaz para conter o avanço dos criminosos, a consequência, a prova disso, é que os bandidos vêm se aproveitando dessa fragilidade.

Francisco Seráphico de Nóbrega, juiz criminal e coordenador do grupo de apoio à execução penal da Corregedoria de Justiça

A questão é muito complexa. Não tenho uma opinião formada sobre o assunto neste momento.

Wendell Beetoven Ribeiro Agra, promotor criminal

As duas coisas. É até natural o que o PCC vem fazendo aqui. Temos uma criminalidade moderna de um lado e a estrutura policial falida do outro. Como algumas práticas se tornam pouco lucrativas, os bandidos passam a investir em novas modalidades, sempre buscando locais onde é menos arriscado. Os criminosos são profissionais e sabem escolher locais onde o risco é menor e o lucro maior. É isso o que está acontecendo no nosso estado, onde a polícia encontra-se em condição de miséria e a repressão é ineficiente.

Edevaldo Barbosa, promotor criminal

Os dois fatores. O fenômeno da criminalidade faz com que as práticas ilícitas se propaguem. Além da TV e do noticiário, que divulgam algumas modalidades, existe uma integração dos crimes. Muitos bandidos de outros estados, inclusive, são presos todos os dias aqui no Rio Grande do Norte. E ainda tem o velho problema da ineficiência da nossa polícia. Tudo isso leva à evolução da criminalidade.

Antônio Carlos de Souza, advogado criminalista

A criminalidade, sem dúvida, está aumentando. Porém, não acredito na falência da nossa polícia. É preciso investir pesado em segurança pública, em medidas de educação, de prevenção, de ressocialização. A população cresce e, de forma proporcional, a bandidagem acompanha. O problema está na falta de reabilitação carcerária. Presos sem regeneração se tornam pessoas revoltadas, que retornam às ruas como bandidos de verdade. E aí está o resultado. Acontece isso aí que estamos presenciando.

Flaviano Gama, advogado criminalista

Em toda sociedade a criminalidade sempre vai existir. O nível de criminalidade é que difere, dependendo, justamente, da distância entre os níveis sociais que existem numa sociedade. Significa dizer que a distância entre pobres e ricos, por exemplo, culmina na diferença que existe entre combater um simples furto e atacar uma associação criminosa. E esta mesma distância de níveis sociais reflete diretamente no investimento que é feito na segurança. Convivemos numa sociedade tão desigual socialmente que a distância entre o criminoso e o aparato policial está cada vez maior.

Maurílio Pinto de Medeiros, delegado aposentado

Estamos vendo e vivendo uma cópia do que acontece em São Paulo e Rio de Janeiro. A ousadia dos criminosos é uma questão nacional. Realmente os bandidos estão avançando. Mas eu tenho certeza que, mesmo com a estrutura deficiente que nós temos, é possível combater a violência. A tecnologia jamais substituirá o homem. Os bons profissionais sempre irão prevalecer sobre os bandidos. A nossa polícia precisa é de bons policiais, de profissionais comprometidos com o ofício.

Sheila Freitas, delegada da Polícia Civil e titular da Divisão Especializada de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor)

A sofisticação da criminalidade está cada vez maior e o investimento em segurança pública cada vez menor. Os bandidos usam novas tecnologias e armamentos pesados, coisas que a polícia não tem. Antes existiam quadrilhas especializadas em certas modalidades, como assaltos a veículos, roubos de banco e tráfico de drogas. Hoje, com a globalização do crime, uma única quadrilha rouba, mata e trafica para conseguir financiar práticas ainda mais lucrativas. E como nós não temos recursos suficientes para acompanhá-los, a luta é desleal.

Francisco Reinaldo, coronel e comandante do policiamento militar no interior

A violência vem dos primórdios da civilização. Não tem quem evite. O Estado vem investindo sensivelmente em segurança pública. O que é preciso fazer, e isso nós estamos fazendo, é trabalhar com planejamento. Faz-se necessário uma estrutura maior de repressão, de prevenção e de inteligência nas divisas com outros estados.

Wellington Alves, coronel e comandante do policiamento militar na região metropolitana

Depois da globalização e a facilidade da comunicação, ficou muito mais fácil obter informação. As instituições de segurança pública, infelizmente, não acompanham este progresso. Quando um soldado finalmente recebe um telefone celular que envia texto, na frente dele tem um bandido com um aparelho que envia arquivos de voz e vídeo. Também precisamos de uma legislação penal que não permita a impunidade, aliada a um sistema carcerário eficiente.

Thyago Macedo, jornalista e repórter policial d’O Jornal de Hoje

Os bandidos sempre foram audaciosos. É uma marca registrada que vem de antigamente. Eles sempre investem em tecnologia. A polícia, não. Cito o exemplo da Polícia Civil, que há anos não consegue renovar seu quadro. Várias delegacias da nossa cidade não possuem sequer computador. O sistema não é interligado e faltam estatísticas para planejamento.

Carlos Henrique Goes, jornalista e repórter policial da Tribuna do Norte

Existe muito mais bandido do que polícia nas ruas. Este é um ponto. Não adianta investir na estrutura da polícia se não houver investimento nos policiais, na capacitação dos profissionais. Pelo menos o investimento que existe eu percebo que ainda é muito tímido. Não acho que a polícia esteja estagnada. Os gestores é que não enxergam a polícia como deveriam, com a atenção que merecem.

Paulo de Sousa, jornalista e repórter policial do Diário de Natal

A Polícia Militar tem crescido, mas não o suficiente. A questão é que há crime que não se evita. A falta de estrutura, porém, é o que permite a impunidade. Desta forma, como conseqüência da falta de punição, é a sensação de que o crime compensa. A ausência de estatísticas por parte da Polícia Civil é outro ponto que impossibilita um melhor planejamento e um combate mais eficaz ao crime organizado.

NOVO JORNAL

Nenhum comentário:

Postar um comentário